Morreu Celeste Caeiro, a mulher que deu aos militares de Abril os cravos que deram nome à revolução. Já pensaram que teria sido do 25 de Abril sem os cravos vermelhos? Não foi militar nem esteve envolvida na política mas o simples ato de ter dado flores, os cravos vermelhos que tinha com ela, ajudou a transformar a história de Portugal no século XX.
Morreu Celeste Caeiro, a mulher que deu os cravos aos militares do 25 de Abril. «Nunca me passou pela cabeça que por causa disso o 25 de Abril viesse a ser conhecido mundialmente como ‘a Revolução dos Cravos», disse certa vez a mulher que ajudou a fazer história sem saber. A humilde trabalhadora de um café onde a distribuir cravos e o resto passou para a história não só de Portugal mas também de um mundo que se encantou com o imaginário da revolução portuguesa.
O exército português já reagiu a esta morte e considera que o legado de Celeste Caeiro «permanecerá vivo na história». Esta morte também já foi lamentada pelo PCP (partido onde militava) e pelo primeiro-ministro. Luís Montenegro usou as redes sociais para lembrar que «Nos 50 anos do 25 de Abril, Portugal despede-se da mulher que pôs os cravos na revolução».
A «Revolução dos Cravos» deve-se também à mulher que andou a distribuir flores para que estas não se estragassem e que tinha raízes espanholas. A mãe, que na altura ainda era viva, era de Badajoz. Deu flores pois achava que devia recompensar o militar que ia fazer a revolução e que anteriormente tinha pedido cigarros. Algo que não tinha, pois não fumava. A 25 de Abril de 1974, Celeste Caeiro tinha 40 anos. Em 1988, perdeu tudo no incêndio do Chiado, ficou sem casa, sem fotografias e sem as recordações de uma vida. Esteve desta forma envolvida em dois dos grandes momentos da história da cidade de Lisboa no último século, a revolução e o grande incêndio do Chiado.
Celeste Caeiro era descrita como uma mulher generosa, trabalhadora e de condições firmes por aqueles que a conheciam. A sua vida chegou mesmo a dar origem a um documentário. A D. Celeste esteve no último desfile do 25 de Abril, onde celebramos os cinquenta anos da revolução, e aí voltou a dar cravos aos militares. Alguns dos quais com os quais já se tinha cruzado naquele mesmo dia há meio século atrás. Aquele foi um dos momentos mais marcantes de um dia onde, em plena Assembleia da República, o Rui Tavares do Livre levantou a ideia de uma estátua da dona Celeste em plena casa da democracia. Será que agora poderemos ver este sonho a ser cumprido?
Celeste Caeiro morreu no dia 15 de Novembro, em Leiria, com problemas respiratórios e a neta já lamentou que a avó não tenha sido homenageada em vida. Pois é quando estamos cá que merecemos ser aplaudidos. Em Maio, a autarquia de Lisboa deu-lhe a medalha da cidade. Marcelo Rebelo de Sousa vai condecorar Celeste Caeiro de forma póstuma, como anunciou no fim da 29.ª Cimeira Ibero-Americana, em Cuenca, no Equador.Celeste Caeiro partiu aos 92 anos.