Um soalheiro dia deu as boas-vindas ao mais simbólico feriado português, o 25 de Abril. Em 1974, os portugueses deram a volta a uma história que durante cinco décadas foi manchada por um regime ditatorial encabeçado por Salazar e, mais tarde, Marcello Caetano. Os capitães de abril foram os responsáveis por dar este golpe e criar uma das mais importantes datas da história de Portugal.
Colocaram em marcha ventos de mudança que continuam a ser sentidos em 2023. Uma luz que deixou as sombras para trás. Mesmo sendo um país com nove séculos de história, apenas vivemos em democracia há 49. anos. Já vivemos mais dias de democracia do que ditadura. As celebrações dos 49 anos da Revolução dos Cravos deram início às comemorações que vão durar até 25 de Abril de 2024.
A Comissão que está a frente das comemorações dos 50 anos, presidida pela professora Inácia Rezola, apresentou uma campanha direcionada para os mais jovens. Metade dos portugueses já nasceu em democracia e como tal não sabe como era o país antes do dia 25 de Abril de 1974. Muitos de nós já somos os filhos ou netos da Revolução. Em Portugal, de 1933 até aos anos 70, não se podia votar, não havia liberdade de expressão ou não se podia viajar livremente (as mulheres tinham de ter uma autorização escrita passada pelo marido ou pelo homem da família).
Os cravos deram vida e perfume a casa da democracia
A Assembleia da República encheu-se com cravos vermelhos e as mais altas figuras do estado para receber as duas cerimónias oficiais que marcaram este dia. Após o discurso na sessão de boas-vindas (esta foi a segunda vez, num espaço de 20 anos, em que falou para os deputados portugueses), Lula da Silva embarcou para Espanha e não assistiu às cerimónias oficiais do 25 de Abril. Mesmo assim, o presidente brasileiro evocou a Revolução dos Cravos já que «no outro lado do Atlântico, nós brasileiros assistíamos á Revolução dos Cravos com esperança de um dia sermos nós a poder viver em democracia». Terminou dando vivas a liberdade e a democracia. Uma revolução portuguesa que se tornou universal e afetou, de forma positiva, o que se passava não só em Espanha, mas também no Brasil.
Atualmente, o cravo vermelho que marca a democracia portuguesa também, segundo o presidente da Assembleia da República, «simboliza a luta dos ucranianos». Cravos vermelhos que há 49 anos foram colocados nas armas dos militares por uma jovem florista luso-espanhola. Um dos inúmeros rostos que acordou naquela manhã como mais um número na escuridão e acabou como um mito.
Durante esta cerimónia, como no exterior da Assembleia da República, existiram manifestações, tanto contra como a favor (com batucada e cravos vermelhos) desta participação. Já na cerimónia oficial do 25 de Abril, Rui Tavares (do Livre) lembrou que «a nossa democracia vive o momento de maior risco desde a revolução». Para o político, a liberdade não é algo de garantido.
Populismo, uma ameaça a democracia
Santos Silva considera mesmo que o populismo «ameaça propagar-se como um vírus». Estes costumam aproveitar o empobrecimento e a degradação política para conseguirem crescer. A líder do PAN, Inês Sousa Real, lembrou a poetisa Natália Correia, que falava sobre os «subalimentados do sonho» que ainda persistem em Portugal 49 anos depois. Na evocação que fez, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que é o povo o supremo senhor desta revolução e que há vários caminhos para prosseguir a nossa história democrática que caminha para os 50 anos. O presidente da república também pediu desculpa pela colonização e pediu maior compaixão pelos dramas dos emigrantes. Portugal sempre foi um país de partidas, mas também de chegadas. Uma plataforma entre culturas e povos.
Para além dos habituais discursos, a cerimónia no hemiciclo terminou com os deputados, membros do governo, convidados e os capitães de Abril a cantarem de cravo ao alto Grândola, Vila Morena. A segunda senha da Revolução dos Cravos. O dia continuou ou som de outras músicas marcantes, como é o caso de Tanto Mar de Chico Buarque, que foram entoadas por aqueles que aproveitaram o dia de sol para descer a Avenida da Liberdade ou participar nas inúmeras atividades realizadas não só em vários pontos de Portugal, mas também no estrangeiro.
A Assembleia da República e o Palácio de São Bento foram alguns dos locais que abriram as suas portas ao público. Na casa do primeiro-ministro existiram atuações musicais, uma delas protagonizada pela fadista Ana Moura. Também na capital existe um gigante com 6 metros que representa um «grito pela liberdade». Celebrações que se querem vivas, tais como os ideais de Abril. Que valem sempre a pena celebrar. Milhares de pessoas, de várias idades e nacionalidades, participaram no desfile da liberdade em Lisboa. Os participantes pedem mais «trabalho, igualdade e um maior cuidado com o ambiente».