Olivença reencontra-se um pouco mais com Portugal

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É de todos conhecida a “cuestión de Olivenza” (questão de Olivença, en portugués). Para aqueles que não sabem, a localidade estremenha é para Portugal aquilo que Gibraltar é para Espanha. Ou seja, a administração e soberania espanhola de Olivença e dos seus territórios adjacentes não são reconhecidas por Portugal.

De uma maneira resumida, e para que todos saibam o porquê de esta questão ter chegado até aos nossos dias, temos que nos remeter ao Tratado de Badajoz, que em 1801 anexou este território a Espanha. Depois de vários anos de denúncias por parte dos portugueses, em 1815, Espanha reconheceu no Congresso de Viena que a soberania de Olivença é portuguesa e comprometeu-se com a sua devolução o mais rapidamente possível. Só que esta nunca chegou a acontecer. Entendam agora como uma questão de mais de duzentos anos ainda levanta suspeitas nos nossos vizinhos que em muitos mapas que possuem e que são usados nas escolas têm Olivença dentro do território luso. Assim, o menino português cresce sabendo que esse é um território usurpado.

E é daí mesmo, das crianças, que provém o título deste artigo. Um acontecimento que ocorreu no mês passado, e que passou algo desaparecido na imprensa, pareceu-me de vital importância e como tal decidi escrever sobre ele.

Segundo a resolução de 6 de Julho de 2020, a Secretaria-Geral de Educação da Estremadura, autoriza a implementação de uma disciplina bilingue desde o curso escolar 2020/2021 ao CEIP Francisco Ortiz López de Olivença. São óptimas notícias e, mais ainda, se tivermos em mente que este curso bilingue será implementada logo desde a mais tenra idade. Na prática, isto significa que os oliventinos de três a seis anos aprenderão português como um idioma veicular. Este é um evento incomum a nível nacional. Por sua vez, estas crianças agora vão saber um pouco mais sobre a sua soberania e assim encontrar novamente as suas raízes.

Já falei, num artigo anterior, como o português tornou-se num diferenciador educacional da comunidade autónoma da Estremadura em relação a outras regiões nacionais. Estima-se que 75% dos espanhóis que aprendem português o façam nesta região. Mas o assunto em questão é ainda mais importante, porque ser bilingue não significa aprender apenas um idioma mas este pode ser utilizado para ensinar outras disciplinas.

Não devemos pensar que o caso deste novo curso bilíngue aberto em Olivença seja algo novo na região, embora seja uma inovação como falamos em crianças. Na Estremadura, desde 2006, já havia a possibilidade de os centros educacionais implementarem projectos bilingues em português. Essa opção tornou-se realidade em 2011 quando o I.E.S. Francisco Vera de Alconchel (Badajoz) solicitou a abertura do primeiro curso bilíngue de português na Estremadura.

Se recorrermos às diferentes ordens ou decretos do bilinguismo na Estremadura, podemos afirmar que a “Consejería”  de Educação desejava que esses cursos bilingues não fossem só para idiomas como o inglês ou o francês. Podemos ler nestes documentos frases como: “será dada atenção especial aos centros bilingues que tem o português como idioma de escolha. Em 2009 tínhamos cabeçalhos inteiros onde se pode ler que “deseja-se continuar a promoção do ensino e a aprendizagem da língua portuguesa como elemento definidor da educação na Estremadura. O português, por inquestionáveis ​​razões geográficas, económicas e culturais, pretende apresentar esta língua para a afirmação de uma construção europeia ao mesmo tempo que se promove o nosso multilinguismo na construção de uma ampla área de cooperação regional entre os dois países ”.

Depois de ver como naquele instituto de Alconchel conseguiram realizar o seu projecto, apenas um ano depois, em 2012, estava aberta um novo curso bilingue, desta vez no ensino básico do CEIP Manuel Pacheco da cidade de Badajoz.

O terceiro dos cursos existentes abriu as suas portas em 2013, no I.E.S. Luis Chamizo de Don Benito, em Badajoz. Este é um feito digno de menção se tivermos em conta que os outros dois cursos bilingues encontram-se muito próximas da fronteira e que Don Benito está a um pouco mais de 100 quilómetros do país vizinho. Isto indica que o português, dado como língua estrangeira nos centros educativos estremenhos vão se expandindo por toda a geografia regional.

A quarta e última autorizada, até agora, é o curso bilingue do centro oliventino e a quem dedico este artigo. Por aquilo que vemos, o processo de criação de novos cursos de português ainda contínua algo lento mas na região temos o bilinguismo neste idioma mas três fases educativas: Infantil, Primária e Secundária. Provavelmente, nos próximos anos académicos poderemos assistir a criação de novos cursos bilingues mas o seu mais simbólico, em Olivença, vai começar agora a sua jornada e fazer com que os oliventinos se reencontrem com as suas raízes portuguesas.

 

Álvaro Terrón Sánchez, professor de Educação Primária e Mestrado em formação em português para ensino. 

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